sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
olhando para trás...
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
...
boas festas...na alma e no corpo!

terça-feira, 19 de dezembro de 2006
Ode on Melancholy
tight-rooted, for its poisonous wine;
Nor suffer thy pale forehead
to be kiss'd By nightshade, ruby grape of Proserpine;
Make not your rosary of yew-berries,
Nor let the beetle, nor the death-moth be
Your mournful Psyche, nor the downy owl
A partner in your sorrow's mysteries;
For shade to shade will come too drowsily,
And drown the wakeful anguish of the soul.
But when the melancholy fit shall fall
Sudden from heaven like a weeping cloud,
That fosters the droop-headed flowers all,
And hides the green hill in an April shroud;
Then glut thy sorrow on a morning rose,
Or on the rainbow of the salt sand-wave,
Or on the wealth of globed peonies;
Or if thy mistress some rich anger shows,
Emprison her soft hand, and let her rave,
And feed deep, deep upon her peerless eyes.
She dwells with Beauty - Beauty that must die;
And Joy, whose hand is ever at his lips Bidding adieu;
and aching Pleasure nigh,
Turning to poison while the bee-mouth sips:
Ay, in the very temple of Delight Veil'd
Melancholy has her sovran shrine,
Though seen of none save him whose strenuous tongue
Can burst Joy's grape against his palate fine;
His soul shall taste the sadness of her might,
And be among her cloudy trophies hung.'
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
...
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
não há direito!
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
isto sim!é jornalismo!!!
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
...
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
for my one and only...
de ter sacudido o sol de dentro das espigas,
de ter ouvido ao longe alguém rir e depois o silêncio,
de sentir que nada se passava ao passar pelos muros,
de não ver ninguém e era a tarde a começar,
de fechar os olhos para me libertar do azul,
e de os abrir como se o céu tivesse outra cor,
de olhar para uma casa como se alguém a habitasse,
e de saber que as janelas se abrem para ninguém,
de perguntar de onde veio a flor que colheste,
sem me lembrar que é o tempo das flores,
de te perguntar quem és sem ouvir uma palavra,
e de ouvir tudo o que a tua respiração me diz,
de teres pousado a cabeça no chão
como se a terra te dissesse um segredo,
e de ter adivinhado o que a terra te disse quando te olhei,
e o teu rosto dizia tudo.'
Nuno Júdice
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
Princesa Desalento
'Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!
É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...
Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...
Florbela Espanca
I know time will heal your wounds
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
balada da despedida...
"Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida
Qualquer coisa que não volta, que voou
Que foi um rio, um ar na tua vida
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'ra vida
Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica esperança de um dia aqui voltar
E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra
Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade Levo comigo p'ra vida"
faltam 20 dias

quinta-feira, 30 de novembro de 2006
...

homenagem
quarta-feira, 29 de novembro de 2006
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
a vida não chega...
sexta-feira, 24 de novembro de 2006
alguém...
Algum Dia (Hás-de Morrer Assim)
Trazes pressa no olhar
Trazes rugas junto à lua
Promessas de não faltar
Naquela esquina da rua
És um homem perseguido
Pelo medo que te apavora
Hora a hora mais sentido
No amor que te devora
Aprendi a amar-te assim
És meu fado hoje e sempre
Querido à beira do fim
Quase a tempo atentamente
E damos voltas no chão
Até que a luz fica fria
De não em sim, de sim em não
Hás-de ser meu algum dia
E damos voltas no chão
Até que a luz fica fria
De não em sim, de sim em não
Hás-de ser meu algum dia
Jorge Palma
rainy days
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
Cansaço
'Tem sempre presente, que a pele se enruga,
Que o cabelo se torna branco,
Que os dias se convertem em anos,
Mas o mais importante não muda!
Quando não possas trotar, caminha.
Quando não possas caminhar, usa bengala. Mas Nunca te Detenhas!'
Madre Teresa de Calcutá
O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
terça-feira, 21 de novembro de 2006
Do not go gentle into that good night
"He wishes for the Cloths of Heaven"
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread upon my dreams."
William Butler Yeats (sara: na versão original é muito mais profundo...)
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
rotina, inimiga rotina

sexta-feira, 17 de novembro de 2006
artolas...
RECADO
e a cada esquina de luz possas recolher alimento
suficiente para a tua morte
vai até onde ninguém te possa falar ou reconhecer -
vai por esse campo de crateras extintas -
vai por essa porta de água tão vasta quanto a noite
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te e
as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo -
deixa que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura do teu breve coração -
ouve-me que o dia te seja limpo e para lá da pele
constrói o arco de sal a morada eterna -
o mar por onde fugirá o etéreo visitante
desta noite não esqueças o navio carregado
de lumes de desejos em poeira - não esqueças o ouro o marfim -
os sessenta comprimidos letais ao pequeno-almoço
Al Berto (1948-1997)
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
...
Opiário

segunda-feira, 13 de novembro de 2006
plágio...descarado!
regresso...
Despertando ilusões… Saio pr’á rua, vestida de negro
Cantando lindas canções. E até a Sé, segreda baixinho
À lua que tão alto está…
Que bom ver a Guarda, a neve tão linda
E ouvir a Egitúnica cantar…'
sexta-feira, 10 de novembro de 2006
for you...
terça-feira, 24 de outubro de 2006
sonhar...
inverno

segunda-feira, 23 de outubro de 2006
preguiça!
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
para ti...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006
today I'm feeling pink...

terça-feira, 10 de outubro de 2006
today I'm feeling blue...very blue...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006
poema dos olhos da amada

São cais noturnos Cheios de adeus
São docas mansas Trilhando luzes
Que brilham longe Longe dos breus...
Ó minha amada Que olhos os teus
Quanto mistério Nos olhos teus Quantos saveiros
Quantos navios Quantos naufrágios
Nos olhos teus... Ó minha amada
Que olhos os teus Se Deus houvera
Fizera-os Deus Pois não os fizera
Quem não soubera Que há muitas era Nos olhos teus.
Ah, minha amada De olhos ateus
Cria a esperança Nos olhos meus
De verem um dia O olhar mendigo
Da poesia Nos olhos teus.'
Vinícius de Morais
terça-feira, 3 de outubro de 2006
Pior Velhice
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!
A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!
E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!
Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova... outrora...
Florbela Espanca
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
Gosto e não gosto Parte II
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
Gosto e não gosto
quarta-feira, 27 de setembro de 2006
city of angels

terça-feira, 26 de setembro de 2006
O tempo II
quarta-feira, 20 de setembro de 2006
a uma AMIGA


terça-feira, 5 de setembro de 2006

segunda-feira, 4 de setembro de 2006
O tempo I
Tabacaria
Não sou nada. Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada
constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira.
Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria
(metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança,
e o Dono da Tabacaria sorriu.
Fernando Pessoa