sexta-feira, 1 de abril de 2022

Aniversário...

Amanhã faço 43 anos! Comprei velas coloridas para enfeitar um bolo que irei fazer com amor, para os amigos que festejarão comigo e apagarei as velas depois de ouvi-los cantar para mim...
Sinto que amanhã faço 60 anos. dói-me o corpo. dói-me a alma. dói-me a pessoa em que me transformei nos últimos anos. Passo os meus dias a tentar ensinar (e a ser ensinada) os filhos de outros pais. passo os meus dias, muitas vezes, a ter de contar até 50 para os meus decibéis não rebentarem janelas e a minha força não cair sobre miúdos que poderiam ser os meus... e gosto muito do que faço! Sinto que contribuo, de alguma forma, para o crescimento destes pequenos seres em formação. e corro entre horas de almoço e finais de dia, para receber um abraço dos pequenos seres que cresceram dentro de mim. e corro em casa para que as noites não se alonguem, para que elas possam ter horas merecidas de descanso... e eu também. e estou tão cheia de tudo o que acumulei durante o dia que rebento ao mínimo estalido que ouça, à mínima contrariedade delas. elas que só querem o abraço e o mimo e a atenção que tiveram de partilhar com outros 20 miúdos pequeninos como elas. e eu poderia ser esse pote de mel no final de cada dia. e no final de cada dia poderia sentar-me com elas no tapete e ser a rainha daquelas princesas, ser a cliente do restaurante que elas gerem e onde confecionam com tanto amor toda a comida de plástico e madeira, com que enfeitam os pratos de todas as cores que habitam aquela cozinha maravilhosa de brincar, ser a senhora que vai fazer rabos de cavalo e prender no cabelo as mais de 500 variedades de ganchos... e ser ali, no nosso recanto, só delas, como elas querem tanto ser só minhas. e olho para o relógio e o tempo não para! e olho para dentro de mim e sinto-me a pior mãe do mundo por colocar o jantar e a roupa e a limpeza à frente de todo aquele amor... e é tão fácil ligar a televisão e servir-lhes uma taça de bolachas para que elas me deixem ter tempo para tudo. e elas ripostam e não querem. querem brincar e se não pode ser comigo, terá de ser uma com a outra... até ouvir gritos e chapadas e queixinhas porque não se entendem nem querem partilhar! E eu, em vez de perceber que elas só estão a pedir atenção, solto o que prendi durante todo o dia e rebento, para todo o lado, em todos os tons! E zango-me! zango-me tanto que sinto que já é o meu estado de espírito mais frequente em todos os dias que passam! E quando as acalmo e as sento à mesa para jantar, chega o pai, que só quer um abraço e um colo e três beijos... e zango-me outra vez porque destabiliza a paz que me deu tanto trabalho alcançar. e zangamo-nos os dois, um com o outro, os dois com elas... e a casa bonita onde só deveriam ecoar gargalhadas estridentes e cantigas que elas decoram na escola e gostam de partilhar, ecoam gritos e discussões e um número infindável de ameaças de castigos que nunca cumprimos! E a hora de deitar é mais uma chamada de atenção para toda a atenção que não tiveram durante o dia... e naquele momento em que nos têm aos dois, disponíveis para elas... volto a zangar-me porque é hora de ler uma história, tranquilamente, no colo de um de nós, deitar e adormecer e sonhar! E isso raramente acontece, porque querem brincar, porque as histórias já não as prendem como quando nos cabiam na mão, porque só querem prolongar aquele momento a 4... como crianças que são! E quando tudo acalma e nos enroscamos nelas até sentir que os sonhos já as embalam, saímos do quarto, pé ante pé e somos só os dois. E o cansaço de todo o dia e do final do dia e do romper da noite leva-nos novamente para longe... e a lareira crepita, a televisão acende-se e o silêncio entre nós volta a irromper... e há sempre tanto para dizer ou haveria, se não houvesse tudo o resto! E tudo o resto é o melhor que temos, o que fizemos e estamos a criar juntos! Nunca estamos totalmente felizes com a vida que temos, pois não? Nunca nos sentimos completos e realizados... e esse sentimento perdura até ao momento em que os nossos olhos se fecham para sempre e a culpa de não termos preservado e esticado todos os minutinhos felizes, nos consome e nos faz partir com arrependimento! 
Lamento sentir que o meu pai partiu assim, há quase 22 anos, sem ter tido tempo de ver tudo o que aconteceu desde aquele dia em que não nos viu mais. E perde-se tanto porque outros valores se interpõem nas nossas vidas, no nosso caminho! E digo constantemente que a vida tem de levar outro rumo, que tenho de me amar mais, me cuidar mais, sem ter de estar constantemente a cuidar das minhas filhas... e falta a coragem, vem o medo de perder algum momento importante e a culpa. Sempre a culpa por sequer ousar em pensar nisso! E elas estariam tão mais felizes (e são!) se eu estivesse bem comigo, se eu fizesse alguma coisa que gosto mesmo! E comecei a escrever este longo texto há 10 minutos e sei e sinto que poderia fazer isto durante dias a fio, sem nunca me cansar! Aqui, neste papel digital, sou eu. Sou a Ana verdadeira e sincera, sem máscaras nem esconderijos. Sou a Ana com os olhos a querer fechar para chorar em silêncio. Sou a Ana frágil e sensível que se liberta por soltar o que reprime para o teclado... sou a Ana que vai fazer 43 anos amanhã. Como se fosse fazer 60. Mas limpei a alma. E já não limpava este pedacinho de mim há tanto tempo! Escrever solta, purifica e rejuvenesce. 
Amanhã faço 43 anos... mas serei sempre a Anita do meu avô Zé! 
E as minhas filhas, que me caibam no colo até que os meus olhos adormeçam da vida para sempre. E que esse para sempre ainda venha longe, muito longe, para as ver crescer!
E o pai delas, que me abrace o peito como no primeiro dia que me abraçou. O meu mundo parou ali. O nosso mundo caminhou, lado a lado, desde esse dia.
Voltarei aos 43! 

quarta-feira, 28 de abril de 2021

O medo não morará sempre aqui.

Há meio ano pedi ao mundo para as deixar viver. Para que o vento se imortalizasse nos seus cabelos  e os sorrisos dos parques abertos e da liberdade de correr por eles adentro se congelasse naquele instante. O medo voltou a fechar-nos e a isolar-nos do mundo... e novamente voltou a abrir-nos as portas! Com medo.

"Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca;

Porque metade de mim é o que eu grito,

Mas a outra metade é silêncio..."

Que o medo nos faça sair descalços, pisar o chão nu, deitar fora as máscaras, voltar a sorrir e a abraçar e a beijar. Que o medo nos faça escalar montanhas, fazer piqueniques, rebolar na relva e partilhar merendas. Que o medo nos leve de volta à música, às montanhas de vozes em uníssono com letras decoradas, aos encontrões de cerveja entornada. Que o medo os conduza a todos os baloiços e escorregas e trampolins e os faça cair na areia, de cansaço. Que os suje e lhes lave o rosto com a água das fontes onde milhares de mãos se imaculam. Que o medo volte a encher os banquinhos de jardim à sombra, no Verão. E as praias e os rios ecoem vozes felizes e mergulhos corajosos.

Que o medo de NÃO VIVER, nos faça querer voltar a viver assim!




quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O medo mora dentro de nós.

Medo. De respirar fora da máscara, fora de casa. De tocar, de abraçar e beijar. De sentir. De cruzar olhares que nos levem a uma aproximação que pode ser fatal. E os olhos dizem tanto, ao longe, agora. E agora, neste tempo que o tempo nos rouba, os olhos falam ainda mais. Sem lágrimas, sem brilho. Com medo. Medo de tudo. Medo de todos. Muito medo por todos os que têm o rosto enfeitado pelas linhas que lhes cravam as histórias de uma vida inteira. Medo de perder. Medo de perdê-los com um abraço que nos corrói a alma por não poder ser dado. Há mais de 8 meses que não abraço a minha mãe, que não lhe dou um beijo, como sempre dei. Todos os dias. E todos os dias a vejo, todos os dias lhe falo, todos os dias me ouve, me dá colo, ao longe. E tudo isto acaba por ser um disparate e uma ilusão. Abraço as minhas filhas todos os dias e dou-lhes colo e dou-lhes beijos e sussurro-lhes segredos ao ouvido, bem pertinho, tão perto quanto estivemos sempre, desde que elas fazem parte de nós. E elas abraçam a avó, dormem com ela, enroscam-se no colo dela. E eu não. E não lhes posso roubar isso. Não posso roubar-lhes as memórias e os cheiros e os segredos que as unem. Não tenho o direito de lhes roubar a infância. Não ouso tocar em nada sem saber que tenho o frasquinho de repelente do medo à mão. Mas se passarmos por um parque aberto, deixo-as correr livremente em direção aos baloiços para ter o prazer de lhes observar a felicidade nos olhos à medida que o vento lhes provoca uma dança nos cabelos que esvoaçam. E deixo-as apanhar flores e rebolar na relva. Deixo-as ser crianças. livres e felizes. É assim que todas deveriam ser. E é isto que nos querem roubar. O papão vive e sobrevive lá fora e alimenta-se do nosso medo, do medo de perder, do medo de sofrer. Do medo de morrer. Morreremos sem ter vivido?! Aprendamos a viver com tudo isto! Com cuidado e com os pés bem assentes na terra. Mas lembremo-nos da nossa infância e da forma livre como crescemos. As crianças precisam respirar fora das salas (o bicho também paira nesse ar fechado!!). Precisam sujar as mãos e a roupa, despentear os cabelos, beber água das fontes, trepar muros, correr! Correr muito! Precisam de cair e saber levantar-se. Precisam de ser crianças e precisam de outras crianças para o poder ser. Sem distâncias, com abraços e beijos. Como os ensinámos a ser. E o maior medo que tenho é de que guardem destes tempos a falta de tudo isso. O sentimento de lhes ter sido roubado o que nos foi sempre tão naturalmente oferecido.

A vida. A vida delas. A nossa vida. A vida de todos.

Protejam-se. Cuidem-se. Cuidem-nas. E deixem-nas viver. Só.



quarta-feira, 15 de julho de 2020

a 13 de maio...



Faz hoje 2 meses que existiu para esta família (e para tantas outras!) o último dia normal deste ano (e muitos dias assim lhe seguirão).
Há 2 meses deixei-as na escola, fui trabalhar e no final do dia fui buscá-las... à saída a auxiliar despediu-se com uma lágrima à espreita e soltou um "espero que seja até breve. protejam-se!". Fomos ao 64º aniversário do avô, onde os mais próximos marcaram presença e voltámos à casa que se transformou prisão. Há brincadeiras, birras, despertares maravilhosos, confeção de bolos e bolachas em conjunto (sim, também já fizemos pão!), dias que parecem não ter fim. Há mil e quinhentas e mais umas poucas refeições para fazer, pó e cotão que se acumula e que ganha vida todos os dias. Há migalhas no sofá, nos tapetes, nas camas... há vestígios de habitação permanente em todos os cantos da casa! Há um lugar maravilhoso ao atravessar a estrada ao qual só agora dou valor. Aprenderam a andar de bicicleta, correm, fazem chocolate e bolos e bolachas com a areia, apanham flores... e voltamos a casa. Há euforia de cada vez que sabem que vamos sair de carro, como se fosse a primeira vez. Com um brilho no olhar que nos remete para as primeiras descobertas. São tão incríveis, as crianças! E eu gostava de ser assim. Gostava de saborear todos estes momentos e sentir o gosto que lhes corre no corpo e na alma. Saboreio-as agora mais do que nunca. Mais do que nos primeiros 5 meses de vida, em que a casa era só nossa, das 3 mosqueteiras durante o dia até chegar o nosso D'Artagnan para a felicidade ser completa. Nessa altura elas ainda não entendiam o que as rodeava, passavam os dias a comer e a dormir (e a sujar fraldas!). Agora são independentes, donas do seu nariz, senhoras de si... e tão pequeninas quando se nos embrulham no colo e voltam à tenra idade com que vieram ao mundo! E sei e sinto que estão felizes, estão sempre juntinho a nós, não têm de partilhar a irmã com os outros meninos... mas sinto que lhes está a ser roubado tanto! Estão crescidas, juntinho a nós crescem sempre mais (é o que sentimos no final das férias de verão - dão muitos saltos, os da altura e os do desenvolvimento motor e cognitivo!) mas faltam-lhes outros colos, outros abraços, outras brincadeiras em conjunto, outras lambuzidelas na cara e no coração! Falta-lhes a alegria no início de cada jornada à chegada à escola "olha, já chegaram as manas!". Não quero viver de queixumes, estamos felizes, seguros e saudáveis. E há quem não esteja. E há, principalmente, quem já não esteja cá para sentir o que quer que seja. Tenho as minhas filhas no colo! Tenho uma mão que não descola da minha e juntos somos uma equipa maravilhosa! Mas sinto falta de mim, do meu espacinho, do meu trabalho, dos "meus" meninos, dos almoços diários com a minha mãe, dos cafés à pressa de manhã com os colegas, dos encontros de fim de semana com os amigos e com a família. Perdoem-me os sensíveis às querelas dos outros. Sou livre de dizer e escrever o que penso e sinto e o que sinto é cansaço. Só.


A imagem pode conter: sapatos, relva, planta, ar livre e natureza










sexta-feira, 27 de março de 2020

Colo em tempo de guerra.

Sempre fui menina de trocar a rua pelo conforto do lar (sempre, a partir de uma certa idade ou de algumas circunstâncias da vida...). Em dias de preguiça, não troco o pijama por quaisquer vestidos ou ornamentos e pinturas que me enfeitem o rosto e o cabelo que nestes últimos dias sobrevive desgrenhado. À varanda, do alto deste terceiro andar com a minha Gardunha (ao longe) e um pedacinho da Estrela a perder de vista, não há condutor ou transeunte de beira de estrada com lupa para me observar, para trespassar as quatro imensas paredes que nos separam do resto do mundo nestes últimos 14 dias. Saio de quando em quando com as miúdas para quebrar rotinas impostas e dissipar energias acumuladas por este isolamento. Saímos de casa e elevo a voz com um vinculado "a primeira a tocar em alguma coisa, parede ou botão, volta imediatamente para casa". Elas cumprem, envolvem-se nos braços uma da outra, encostadas a mim para sair imaculadas do elevador, em que cuidadosamente acciono cada botão com o cotovelo, não vá o diabo tecê-las! Saímos pelo portão da garagem (aberto igualmente com o cotovelo) e respiramos enquanto atravessamos um corredor rodeado de pinheiros e cheiro a liberdade, que saudamos com os braços erguidos, acompanhados com uma inspiração profunda. Penso que as ensinei a fazê-lo para guardarem aquele cheiro no cantinho da memória, caso tenhamos que lhe recorrer quando até essas fugidas nos forem proibidas!
Antes de nos deitarmos a correr em perseguição conjunta num campo que outrora foi palco de disputas entre escolas, pisamos a terra húmida com os pés nus e sopramos dentes de leão com a força que julgamos ser capaz de enviar para longe todos os papões que nos assombram as jornadas!
Regressamos então à "prisão" segura, uma vez mais sem em nada tocar, e à rotina, entre jogos de esconde e apanha, de construção de castelos e casas e torres e muros que nos isolam. Aprendi que os puzzles são uma boa terapia para mim. Deixam-me absorta das notícias que me assolam os pensamentos 24 horas por dia (mais horas houvesse para preencher o vazio de um cérebro que em mais nada pensa!). Os milhares de sugestões de brincadeiras e atividades para entreter os miúdos são de uma boa vontade incrível, mas não os abro, não percorro o ecrã do telemóvel à procura de mais uma ideia que nos ajude a ultrapassar os dias. Não faço planos (apenas refeições!), deixamo-nos levar pelo passar das horas, dos dias e das semanas que já atravessámos e dos muitos que ainda nos irão ser "oferecidos" por um inimigo sem rosto, sem cheiro, sem imagem! Passei a ter medo de tudo. Não faço compras, não socializo, levo sempre o gel para lhes limpar o meu medo, toquem onde tocarem. Limpo meticulosamente cada divisão e cada superfície porque me exacerba a ideia de que o inimigo possa ter entrado por uma fresta de janela que abro todas as manhãs para que o sol nos ilumine e nos dê alento para o que aí vem! Adormeço com as imagens que rebobinamos do noticiário, todos os dias, ao final de cada dia e que me apavoram. Vejo os vizinhos deste país pequenino tombarem sem ninguém para lhes amparar a queda, sem ninguém para lhes dizer adeus. O que lhes dizem, a esses a quem a esperança não assiste é que "já não posso fazer nada por ti"... e partem, sozinhos. E são amontoados em caixas de madeira, onde as mesmas couberem, à espera que o lume se acenda para lhes evaporar o último sopro. E as camas, os cadeirões, os colchões que se amontoam em corredores porque os quartos já não têm espaço para mais um, os médicos e enfermeiros e auxiliares estão demasiado assoberbados e exaustos com tudo isto. E não desistem. Não baixam os braços. E até eles, esses a quem estupidamente só agora aplaudimos e elogiamos, tombam! E penso, noite após noite, que quando o nível de horror chegar a este jardim à beira-mar plantado, vai ser pior. Todos nós vamos ser postos à prova, TODOS! E, quando tudo terminar (ou apaziguar) vamos continuar, dia após dia a viver com medo, petrificados com qualquer pessoa ou objeto ou divisão ou superfície que não esteja imaculadamente limpo, porque o filme pode estar novamente por detrás das cortinas pesadas de um cinema em remodelação causada pela destruição de outrora.
Por ora, aproveito o tempo que nos dá tempo para vivermos os quatro para os quatro e para mais uns quantos que podemos "visitar" nos ecrãs que nos abrem janelas para o nosso mundinho que sobrevive lá fora. Neste momento, vivo mais intensamente o colo que não consigo dar nos dias normais. Sento-me no chão. Rebolo e sou outra vez menina como elas. Como só elas sabem transformar-me. E volto a ter medo de não ter tempo para voltar a estes momentos quando tudo isto passar, seja lá quando isso for.

A imagem escolhida é uma pintura de Klimt - Mother and Child que traduz a palavra que melhor descreve este recolhimento: COLO.





quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

2020.

e, num ápice, chegou 2020. 
e, num ápice, a minha vida já ocupou mais de 4 décadas no mundo. uma luz pequenina neste mundo tão imenso. vivi tanto e lembro-me de tão pouco. sei (porque sinto!) que tive uma infância feliz. tive a sorte de nascer numa família rodeada de amor. tive o privilégio de conhecer 3 dos meus avós e de ter sido a Anita durante o tempo que eles duraram. tive a honra de ser educada (e mimada!) por muitos adultos. tive o infortúnio de os ver partir demasiado cedo e não ter podido dizer adeus. visitei os 3 no hospital e no lar, onde passaram (uma vez mais) demasiado tempo até que a vida os permitisse partir sem mais dor. tinha eu 12 anos. e a pureza da infância ganhou uma cor mais escura, ganhou a cor da perda de uma parte de mim. deixámos de ter um quintal de fim de semana onde corríamos livremente e podíamos cair sem qualquer preocupação. havia tantas bocas para nos sarar as feridas! deixámos de ter as cerejeiras de primavera para trepar e chegar lá acima e comer, ainda na escada, aquele fruto que ainda me faz brilhar os olhos pelas memórias que carrega. mas os cheiros. ah! o aroma a lareira acesa na cozinha (sem as usurpadores cassetes que nos limitam o olfato!), as batatas fritas em azeite, o feijão cozido em panela de ferro. o avô Zé sempre de braços abertos e de olhos azuis raiados de felicidade. a avó Ana, com quem a vida foi demasiado injusta e não conseguia demonstrar mais. mas era boa, a avó. a avó Luzia, que foi tantas vezes primeira e segunda mãe. tinha os olhos claros como a água quando é pura e cristalina, o cabelo metricamente preso num chinó, que quando solto lhe passava a cintura. tinha cara e cheiro de avó e um colo que nunca vou esquecer. o corpo nunca esquece o calor que o fez feliz. às vezes, quando a saudade aperta e a memória teima em não cooperar com o que precisamos sentir, fecho os olhos e o colo está lá. o colo, o cheiro, o mimo. o amor!
9 anos depois... 9 anos! 9 ano depois partiu o pai. tão pouco tempo depois a minha alma mirrou-se. ficou pequenina. fiquei vazia. demorei mais de uma semana a permitir que as lágrimas me caíssem. segurei-as até ganhar coragem para me sentar num muro frio do cemitério a olhar um pedaço de terra com relevo, onde já não havia nada mais que um corpo. já não era o meu pai. o meu pai tinha partido alguns dias antes de partir. quando o visitei no hospital, lhe segurei a mão e o olhei nos olhos, ele já não estava ali. não respondeu à força que quis passar-lhe através da pele. o meu pai já não morava ali. e chorei. chorei antes de todos chorarem porque sabia que já não voltaria a vê-lo. já não voltaríamos a discutir e a magoar-nos um ao outro (como demasiadas vezes aconteceu). já não voltaríamos a sentar-nos numa esplanada a beber cerveja enquanto eu devorava 2 doses de caracóis, à espera que a mãe regressasse da missa. já ninguém me compraria cigarros às escondidas da mãe. já não soariam mais gargalhadas. já ninguém voltaria a dizer "olha, já chegou a comprida!" ninguém. ninguém me amou assim. nunca magoei ninguém como o magoei a ele. nunca. e ali, naquele muro que me gelou num assolador fim de julho, chorei. chorei de arrependimento e de saudade. passou-me a vida pelos olhos. a que vivi , a que vivemos, a que ele não poderia viver mais. é a pessoa que me faz mais falta. é a pessoa que mais raiva me faz ter da vida por não poder vivê-la comigo. por não poder ver as minhas filhas crescer. por não poder levá-las a passear e a fazê-las amar a natureza e os dias longos de verão como fez connosco. chorei sozinha e voltei à fortaleza que construí à minha volta uma semana antes. nunca mais fui a mesma. tento lembrar-me muitas vezes do momento em que perdi a menina que vivia em mim e tenho a certeza que foi nesse dia. no dia em que ele partiu e levou com ele o amor que tínhamos. tenho a certeza que neste momento seria mais condescendente, mais branda, mais flexível. as minhas filhas vão crescer, como eu, sem ter conhecido o pai da mãe. e falam tanto nele. porque eu falo nele, porque lhes mostro fotografias do avô Aníbal com aquele sorriso contagiante. e falo com ele, quando sinto que ninguém me entende. e peço-lhe desculpa por me ter tornado nisto. não foi esta pessoa que ele deixou para trás. não foi. depende de mim mudar. mas passou tanto tempo. vivo há tanto tempo fechada em mim que não concebo outra forma de viver. não admito que me contrariem, que me contradigam, que me desafiem. que me amem. que exemplo estou a dar a estes dois seres pequeninos que dependem de mim?! que lembranças lhes estou a cravar na memória?! tenho tantas vezes  vontade em desaparecer por sentir que faço mal a demasiadas pessoas. obrigo-me a estar presente em ocasiões especiais (ou casuais) por respeito ao pai delas que, apesar dos pesares, das discussões constantes, do meu tom ríspido e arrogante, me ama e quer que continuemos a ser a família que nos propusemos construir. e não consigo corresponder às expectativas. sinto que perdi a capacidade de mudar. mas quero vê-las crescer, quero fazê-las felizes e quero ser feliz com quem me escolheu para o ser. 
resoluções?
ser feliz. fazer com que os outros não se coíbam de ser naturais na minha presença. ser feliz. viver em paz.
e já vivi em 5 décadas. e quero e preciso viver muito mais. criar um álbum de memórias que dê prazer folhear quando eu partir... sem deixar ninguém irremediavelmente quebrado.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

resoluções 2019.

Estamos a aproximar-nos daquela altura do ano em que, quer queiramos quer não, acabamos por fazer avaliações (mais ou menos conscientes) do que vivemos desde janeiro. É época de resoluções e de promessas, de uma vontade desmesurada de mudar aquilo que correu menos bem (ou muito mal!) e de uma crença de que tudo vai ser diferente a partir do 1º de janeiro seguinte. E é aqui que eu paro. fecho os olhos. faço rewind na minha memória. e errei. errei tanto. aliás, erro cada vez mais. com os outros. com elas. com ele. comigo. não sou justa comigo. faço o que não quero e juro tantas vezes não voltar a fazer. grito e esperneio porque não me dão a atenção que (acho) que mereço. não me ouvem. e é normal, eu também deixaria de me ouvir! 
E o que fazer para mudar tudo isto? nada. não preciso fazer nada, a não ser respirar que é o que o ser humano já faz com a naturalidade que lhe é inerente. R-E-S-P-I-R-A-R.
E deixar-me de merdas! penso que, basicamente, é isto. deixar de me preocupar tanto e viver mais. ser mais condescendente e menos crítica. contar até 10 (ou 100!) antes de abrir a boca. mas RESPIRAR engloba tudo isto. Há cerca de um ano já tinha consciência do que estou a escrever, até porque o escrevi... há 1, há 2 e há 3 anos. mudei? NÃO! vou mudar agora?! QUERO! quero muito viver em paz e fazer com que quem me rodeia viva da mesma forma. quero que as minhas filhas se lembrem de uma mãe feliz, cansada mas feliz. que se sentava com elas a fazer puzzles e a destruir plasticina. que rebolava com elas nos chão e lhes amparava as cambalhotas. que lhes curava as feridas e as tristezas com um beijo e um abraço. só isso. quero que, daqui a (espero!) muitos anos, depois de eu partir, parte da noite de natal delas seja a falar da mãe que era feliz e que lhes tornou a vida branda, a infância livre e lhes amorteceu as quedas, deixando-as sempre cair. a mãe-colo! quero ser recordada assim. não como sou hoje. não uma pessoa que se emociona com qualquer anúncio ou filme mais enternecedor que retrate o que a minha realidade deveria ser. quero ser a protagonista dos filmes a cores, dos filmes felizes. com lágrimas. com desilusões. com a cabeça levantada e o orgulho intacto! deixar o coração cheio a quem fica e a quem partilhou a vida comigo, de mão na mão... "até sermos velhinhos, sim?"
só tenho de respirar, não é?! 
Então vá.... inspira. expira. inspira. expira. Vai... vai, sê e deixa os outros felizes!

terça-feira, 26 de novembro de 2019

outono...

Ai outono! De quentes e ternas cores. De tons dourados e flamejantes. Ai outono que tanta mudança almejas. Que fazes as folhas cair e os chão cinzentos e frios cobertos de um manto repleto de cor! Ai outono que me aquece os olhos. Os olhos que tantas vezes se enchem de lágrimas por tanto e por tão pouco... cada vez mais! Tudo me emociona... tudo me enraivece. Já não há meio termo ou copo meio cheio. Há transbordo e explosão... há muito pouca contenção. E os olhos brilham com a tristeza e a alegria alheias. A minha vida... a minha vida é toda uma miscelânea de sentimentos que colidem entre si! Os meus dias são corridas de fórmula 1... e o meu carro já não tem a cilindrada de outros tempos para ganhar o percurso. Ganhar... ganhar o quê se a vida vida já me deu tanto... já tanto me tirou?! Tirou-me o chão e deu-me asas! Tirou-me a alma e encheu-me o coração e o colo! Tirou-me o sorriso e iluminou-me o rosto! Tirou-me a essência e presenteou-me com brilhos no olhar constantes! Sou uma afortunada... e uma insatisfeita. Sempre fui! E aquele blá blá blá do "temos que dar valor aos presentes da nossa vida e deixar de lado as insignificâncias que nos consomem" faz mesmo sentido! Mas para mim não faz sentido nenhum! Porque raio não podemos ter tudo o que nos faz felizes?! Porque temos de continuar a ver as pessoas partir deixando um enorme buraco de nada, repleto de memórias e lembranças e uma saudade que nos consome?! Será assim tão difícil agradecer os blá blá blá's da vida e ser, simplesmente, feliz com o que tenho?! Nada tem de ser tão perfeito como o que almejo. Nada tem de ser tão bonito e tão brilhante como gostaria. As minhas filhas não são bibelôs nem figuras de montra de Natal. Não são sossegadas e comportadas. Gritam, esperneiam e fazem birras que me dão vontade de arrancar o meu cabelo (e o delas!) um a um. Têm o mau feitio da mãe... e a doçura do pai! E dão os melhores abraços do mundo! E os beijos?! Os beijos que nos lambuzam a cara (e nos dão vontade de guardar aquela sensação numa bolha eterna!)! E as gargalhadas que ecoam pela casa e lhe dão vida?! Vida e desarrumação e pó e bonecos despidos e peças de puzzles espalhadas e tapetes e paredes pintadas com as cores que deviam desenhar em papel! É tudo tão bonito e eu sou tão estúpida que não vejo isso!!! De que me lembrarei, velhinha, sentada no meu cadeirão desbotado, a ver o Preço Certo e a comer filhós com doce de mogango e chá quentinho? Das birras e dos nossos gritos?! NÂO! Sentirei saudades das dores nas costas pelo colo que sempre dei... e sentirei a pele do rosto enrugado e seco... pelos beijos melados que já não recebe! Sentirei saudades dos bichinhos de conta enroscados em mim, dos "amo-te muito, mãejinha!"... e da casa repleta de sons que fazem desesperar qualquer vizinho! Ganhar.... juízo, Ana!! Ganha juízo e vive mais e resmunga menos! Abraça mais, respira! E ama!!!! Ama todos os dias!!! 
E, nesses dias de velhice e mantinha e braseira aos pés, que tenhas a mão que durante a vida se colou à tua e não partiu. E está ali, ao teu lado, com as mesmas rugas no rosto e o mesmo sorriso rasgado a lembrar o arco-íris que foi (e continua a ser!) a vossa vida!!!




domingo, 25 de agosto de 2019

O amor mora aqui.

Esta é a legenda da minha vida, da minha felicidade. Não são necessárias palavras ou qualquer descrição. É isto! O amor, a partilha, a cumplicidade, a entrega e dedicação, o espelho, as parecenças e diferenças. As três pessoas mais importantes da minha existência... e é com eles que mais grito, quem mais crítico, quem mais magoo! É com eles que perco mais a paciência... mas é também a eles que amo incondicionalmente, que entrego o meu mais sincero sorriso e os mais sentidos abraços! É nos meus braços, nos braços deles que existe o mais bonito e seguro lugar do mundo! Perdoem esta mãe, esta mulher cansada. Sou imensamente feliz! Por detrás destes olhos exaustos e deste corpo enfraquecido mora amor! Prometo-vos amor, mesmo que seja (demasiadas vezes) pautado por um tom menos terno, mais agressivo, mora um amor desmedido! Abracem-me muito, façam-me sorrir mais vezes (sim, muito mais vezes!), façam-me cantar e dançar e ser menina com vocês (não como vocês, como muitas vezes teimo em comportar-me!).
A mãe mora aqui. A mãe Ana morará sempre aqui, com amor.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

reik'iniciada...

O que é que hoje senti ao acordar?
Como correram as primeiras horas da manhã?
E a despedida, o até logo repetidamente dito todos os dias da semana?
A viagem até ao trabalho (hoje, de comboio), foi pacífica?
O café, as caras conhecidas que fazem deste ritual o início de mais uma jornada...

Iniciei sábado passado a minha terapia, uma terapia "imposta" que inicialmente seria para a Clara... confesso que não conheço aprofundadamente os benefícios do reiki mas sinto que é para mim. Senti esse turbilhão de sentimentos na sessão em que levei a Clara para o desconhecido e foi dos meus olhos que brotaram as lágrimas que cobriram o meu rosto. E neste sábado não foi diferente. Se for assim sempre, em que "perdemos" quase uma hora em confissões e lágrimas e sinceridade absoluta, e naquela transmissão de energia boa, sei que a minha alma, o meu coração, pouco a pouco, vão apaziguar a dor e a mágoa que até hoje guardo. De tudo. Da vida. Do passado. Do presente. De mim.
Ela pediu-me para, a cada dia, transpor para o papel (ou para o meu ecrã) uma pequena frase sobre a forma como iniciou o meu dia (ou finalizou). Só assim poderei avaliar o que faz transtornar os nossos finais de tarde e as noites em que estou mais ou menos predisposta para elas... e isso, notoriamente, reflete-se no seu comportamento. Os finais de dia são sempre o espelho do que vivi nas horas que antecederam o nosso regresso a casa. É nisso que preciso trabalhar e aprender a respirar para que a nossa bolha não sofra as mutações do meu estado de espírito menos bom!
Trabalho de casa: RESPIRAR! CONTAR ATÉ 3! RESPIRAR!
Ser um bocadinho melhor a cada dia que passa...
RESPIRAR! Ter consciência de que as minhas palavras ferem, antes de pensar sequer em proferi-las. Não esperar pedidos de desculpa quando quem os deve, não conhece a dívida.
APRENDER a viver com as intempéries e deixá-las no tempo em que aconteceram.
Se nunca o fui, não começarei agora a ser rancorosa.
VIVER mais para mim e para os meus. BRINCAR mais. PENSAR menos. AMAR desmedidamente. ESQUECER o pó. ABRAÇAR sempre. VALORIZAR o que sou.
SER. SER. SER.

'There is so much peace to be found in people’s faces...'


It’s coming to pass, my countries coming apart The whole thing’s becoming such a bumbling farce Was that a pivotal historical moment we just went stumbling past? Well, here we are, dancing in the rumbling dark So come a little closer, give me something to grasp Give me your beautiful, crumbling heart Another disaster, catharsis Another half-discarded mirage Another mask slips I face off with the physical My head’s ringing from the love of the stars There is too much pretense here Too much depends on the fragile wages And extortionate rents here We’re working every dread day that is given us Feeling like the person people meet really isn’t us Like we’re gonna buckle underneath the trouble Like any minute now, the struggle’s going to finish us And then we smile at all our friends [Refrain] It’s hard, we got our heads down and our hackles up Our backs against the wall, I can feel you aching None of this was written in stone There is nothing we’re forbidden to know And I can feel things changing Even when I’m weak and I’m breaking I’ll stand weeping at the train station ‘Cause I can see your faces There is so much peace to be found in people’s faces [Verse 2] I saw it roaring I felt it clawing at my clothes like a grieving friend It said there are no new beginnings Until everybody sees that the old ways need to end But it’s hard to accept that we’re all one and the same flesh Given the rampant divisions between oppressor and oppressed But we are, though More empathy, less greed, more respect All I’ve got to say has already been said I mean, you heard it from yourself When you were lying in your bed and couldn’t sleep Thinking, "Couldn’t we be doing this differently?" I’m listening to every little whisper in the distance singing hymns And I can, I can feel things changing [Refrain] But it’s so hard, we got our heads down and our hackles up Our backs against the wall, I can feel your heart racing None of this was written in stone The currents fast, but the river moves slow And I can feel things changing Even when I’m weak and I’m breakin' I stand weeping at the train station ‘Cause I can see your faces There is so much peace to be found in people’s faces [Verse 3] It’s not enough To imagine we’ll be happy when we’ve got enough stuff All this stuff is blocking us I’m neat with no chaser I’m all spirit, but I’m sinking 'Cause the days are not days but strange symptoms And this age is our age But our age is rage sinking to beige And yes, our children are brave But their mission is vague Now I don’t have the answers But there are still things to say I stare out at my city on another difficult day And I scream inwardly, "When will this change?" I’m beginning to fade But my sanity’s saved ‘cause I can see your faces My sanity’s saved ‘cause I can see your faces [Refrain] It’s hard, we got our heads down and our hackles up Our backs against the wall, I can feel your heart racing None of this was written in stone The current’s fast but the river moves slow And I can feel things changing Even when I’m weak and I’m breaking I stand weeping at the train station ‘Cause I can see your faces I love people’s faces

quarta-feira, 12 de junho de 2019

desafogo vespertino!

40 anos feitos há mais de 2 meses e tudo se mantém. a mesma rotina. a mesma insatisfação a nível profissional. o mesmo cansaço. a mesma falta de paciência. as mesmas discussões de final de dia. o mesmo mau-humor. esqueci-me (esqueço sempre!) das resoluções que fiz para este ano. passam nuvens cor-de-rosa fofinhas por cima de tudo o que penso ou idealizo e as promessas caem no esquecimento daquele céu longínquo onde em tempos sorria muito. sorria de e para tudo, para todos, até! hoje deambulo entre o caos que deixamos em casa (imaculado na hora de saída!) e um "trabalho" que me oferece prazeres efémeros... e depois passa. passa porque os projetos terminam e até que outro inicie passam horas e dias e semanas intermináveis. e há muito para fazer, há sempre muito com que ocupar o tempo. mas faço tudo rápido. tudo em mim é impulso. e o que poderia resultar num trabalho final fantástico, é meramente satisfatório. sempre fui assim, mediana por preguiça e comodismo. inteligente sou! sempre fui. mas pensar e fazer brilhar dá muito trabalho. ou até não. mas não me apetece. não estou para aí virada. ninguém reconhece! e o meu auto-reconhecimento deveria ser suficiente mas um "obrigado" sincero e um aplauso silencioso (a gratidão está nos olhos de quem a dá, quando a dá com sentido!) sabem tão bem. é um aconchego para a alma e um reconforto para o ego. depois, no final de mais um dia vazio, volto a casa. e nesses dias em que não dou nada de mim, porque já dei, antes, a correr, estão lá elas, as miúdas que querem a mãe para brincar, o colo da mãe para matar saudades ou para curar a rabugice e a mãe não está lá. está zangada com tudo e com todos e com o mundo e com tudo o que nele habita e mexe, menos com elas. mas são elas que estão lá e são elas que pagam. pagam numa moeda que jamais conseguirei pagar. jamais conseguirei compensar. o tempo não cala nem baixa o volume dos gritos que ecoaram nas paredes da nossa casa um dia, vários dias. demasiados. e choram. mas querem abraços. e fazem birras, mas querem-me na sala, com elas, entre jogos que as fazem felizes, entre "café... com leite, mãe?!" que me preparam com todo o amor que, naqueles minúsculos grandiosos corações sentem. e a mãe chora por dentro. esmorece a cada demonstração de amor e carinho. porque não há tempo. porque as miúdas têm de jantar e, porra pá!, esqueci-me de deixar alguma coisa a descongelar de manhã. e agora é tarde. e tem de se magicar alguma coisa a que elas não torçam o nariz. e depois chega ele com ânsia de nos ver. com saudades delas e de nós. e eu não deixo que brinque porque já é tarde e elas têm de jantar e os pratos já deviam estar na mesa e a sopa no microondas e eu não sou criada de ninguém. não senhora, pá! e ele não foi passear nem andar de bicicleta (que o faz tão feliz!). esteve a trabalhar onde também não é muito feliz mas dá para pagar contas e vivermos seguros. e eu quero 5 minutos de atenção, por entre o colo que elas pedem e o prato que jaz frente a elas sem ser tocado porque já passou da hora e as birras começam o início do final de dia. que devia ser em paz. e raramente é. e a hora de deitar chega cada vez mais tarde. porque queremos fazer tudo e porque elas nos querem um bocadinho. porque passam demasiadas horas sem nos ver e aquelas escassas horas são só nossas. e deveriam ser de gargalhadas e saltos em cima de cama, de banhos a borbulhar todo o espaço em volta e de olhos a brilhar porque, finalmente estamos todos juntos. mas, porra pá!, há sempre tanto para fazer. e eu, quero que fique sempre tudo feito antes de nos dedicarmos a elas, para que quando as adormecemos juntinho a nós, possamos dedicar-nos um ao outro. e o sono? ui! e as noites sem beijos de boa noite e um "amo-te muito" porque acabámos por ficar lá, junto a elas, embalados no calor delas? tantas noites. e o sofá fica ali, vazio e imaculado. sem nós. sem amor. e o amor está lá. em nós. em mim. nele. está lá sempre, mesmo por detrás das discussões. nos dias mesmo bons, o amor cheira-se a kms de distância. e cheira bem. sabe tão bem! saudades de sermos os dois, um do outro. jamais trocaria o que temos agora. um ao outro. elas. o lar. jamais. isto, apenas isto, apesar de parecer estar longe da realidade, é real. é sentido. o amor é sentido. por elas. por ele. O AMOR É SENTIDO! O AMOR É REAL! O AMOR SOMOS NÓS!!!!!!!!


Ah.... saudades de escrever sem sentido. escrever para me libertar. para respirar melhor.
vai ficar tudo bem. só preciso respirar. e escrever.
sou feliz, sim. muito.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Life at (pre) 40s...

15 são os dias que separam o hoje daquele que será o meu primeiro dia dos 40 - 40 anos!
Número demasiado redondo para as curvilíneas da minha vida! Não estou preparada, não! Não estou crescida o suficiente para entender que tenho, de um dia para o outro, de ser obrigada a crescer! 40 anos é uma responsabilidade muito grande, mesmo para mim que já sou mãe de duas, companheira e mulher, filha de mãe, sem pai... nora com muito pouca paciência... se a falta dela fosse só nesta minha condição, muito felizes seriam os que me acompanham na vida! Sinto-me precisar de uma valente chapada de realidade, de um precipício onde não haja viv'alma para me amparar a queda! Sou mimada e mal agradecida, sou, a cada dia que passa, mais arrogante e menos permissiva, menos paciente... menos adulta!!!!! E as minhas filhas precisam de uma mãe crescida, crescida e consciente do mal que faz às pessoas mais próximas! À mãe que há quase 19 anos é também pai, que me apoia incondicionalmente e que, perante os meus devaneios de raiva acumulada, leva sempre por tabela! Aos sogros que não fazem mais porque não podem, e que aguentam, calados e tristes, quando os meus decibéis vocais se elevam para além do que é o respeito que eles merecem. À irmã mais velha, que só volta a falar comigo "quando eu crescer" - apesar de ser ela a viver nas lembranças da Ana adolescente sem regras, a alimentar-se de invejas e ciúmes sem fundamento! À irmã mais nova, que, depois de muito engolir, tem dito "já chega!" demasiadas vezes. A ele, ao pai das minhas filhas, ao homem da minha vida, ao meu melhor amigo... grito tanto! Suporto tão pouco! Trepo paredes por insignificâncias... e magoo! E choro pelas paredes do meu corpo, para mim. Para os outros sou insensível e grito porque sim, porque sou uma miúda! E para minhas filhas, essas sim, as "miúdas" que merecem o melhor de mim e nem para elas tenho paciência... e tempo! Ou tempo que não consigo arranjar porque me preocupo demasiado com refeições e pó e cotão e roupa para lavar... e o amor, caramba?! E o brincar, a partilha e o ensino? O deitar no chão com elas e rir, rir alto, rir como elas gostam e precisam! Rebolar como elas querem e imploram! Ser mãe!!!!! Não ser só a mulher a dias que tem de cuidar delas!!!!! Preciso MESMO. M-E-S-M-O, de parar. De respirar. Inspirar. Expirar. E viver! Viver com elas, para elas! E para MIM!!! E para nós! E amar! E sorrir como antes, quando as preocupações de mãe (preocupações fúteis!) não me assolavam os dias e se sobrepunham ao amor e à disponibilidade para vê-las crescer... e ser as crianças que elas precisam ser comigo!
Merda para mim com estes 39 anos! PRECISO MUDAR!!!!!!! 
É agora?! É isto que se sente aos 40?! Ou é isto que se deveria sentir todos os dias da nossa vida?!
Esquecer o pó nos móveis e os brinquedos atulhados para tropeçar a meio da noite! Sorrir mesmo que não concorde e acenar, para não melindrar ninguém. Contar até 10 antes de abrir esta bocarra sem filtro.Sorrir mais (em casa!) e refilar menos! Abraçar todos os dias (mais, muito mais ainda!!!).
É isto?! É fazer planos e promessas! Fazer contenções e sacrifícios (que não deveriam ser?!).
Acima de tudo, o meu maior desejo, é que EU volte a ser EU, sem perder a menina "crescida" que já sou! Posso voltar a sorrir como antes? Se quiser, se fechar os olhos e sentir que esse é o meu maior desejo, voltarei sim!
Se os 40 nos trazem esta clarividência (mais que evidente há demasiado tempo), então, sejam muito bem-vindos, sim?
E abraço-vos agora, antes que estes 15 dias cheguem demasiado fugazes e me esqueça do que escrevi agora... não há desculpa!

Até já, número redondo!!!!! GROW ME UP!!!!!!