Amanhã faço 43 anos! Comprei velas coloridas para enfeitar um bolo que irei fazer com amor, para os amigos que festejarão comigo e apagarei as velas depois de ouvi-los cantar para mim...
Sinto que amanhã faço 60 anos. dói-me o corpo. dói-me a alma. dói-me a pessoa em que me transformei nos últimos anos. Passo os meus dias a tentar ensinar (e a ser ensinada) os filhos de outros pais. passo os meus dias, muitas vezes, a ter de contar até 50 para os meus decibéis não rebentarem janelas e a minha força não cair sobre miúdos que poderiam ser os meus... e gosto muito do que faço! Sinto que contribuo, de alguma forma, para o crescimento destes pequenos seres em formação. e corro entre horas de almoço e finais de dia, para receber um abraço dos pequenos seres que cresceram dentro de mim. e corro em casa para que as noites não se alonguem, para que elas possam ter horas merecidas de descanso... e eu também. e estou tão cheia de tudo o que acumulei durante o dia que rebento ao mínimo estalido que ouça, à mínima contrariedade delas. elas que só querem o abraço e o mimo e a atenção que tiveram de partilhar com outros 20 miúdos pequeninos como elas. e eu poderia ser esse pote de mel no final de cada dia. e no final de cada dia poderia sentar-me com elas no tapete e ser a rainha daquelas princesas, ser a cliente do restaurante que elas gerem e onde confecionam com tanto amor toda a comida de plástico e madeira, com que enfeitam os pratos de todas as cores que habitam aquela cozinha maravilhosa de brincar, ser a senhora que vai fazer rabos de cavalo e prender no cabelo as mais de 500 variedades de ganchos... e ser ali, no nosso recanto, só delas, como elas querem tanto ser só minhas. e olho para o relógio e o tempo não para! e olho para dentro de mim e sinto-me a pior mãe do mundo por colocar o jantar e a roupa e a limpeza à frente de todo aquele amor... e é tão fácil ligar a televisão e servir-lhes uma taça de bolachas para que elas me deixem ter tempo para tudo. e elas ripostam e não querem. querem brincar e se não pode ser comigo, terá de ser uma com a outra... até ouvir gritos e chapadas e queixinhas porque não se entendem nem querem partilhar! E eu, em vez de perceber que elas só estão a pedir atenção, solto o que prendi durante todo o dia e rebento, para todo o lado, em todos os tons! E zango-me! zango-me tanto que sinto que já é o meu estado de espírito mais frequente em todos os dias que passam! E quando as acalmo e as sento à mesa para jantar, chega o pai, que só quer um abraço e um colo e três beijos... e zango-me outra vez porque destabiliza a paz que me deu tanto trabalho alcançar. e zangamo-nos os dois, um com o outro, os dois com elas... e a casa bonita onde só deveriam ecoar gargalhadas estridentes e cantigas que elas decoram na escola e gostam de partilhar, ecoam gritos e discussões e um número infindável de ameaças de castigos que nunca cumprimos! E a hora de deitar é mais uma chamada de atenção para toda a atenção que não tiveram durante o dia... e naquele momento em que nos têm aos dois, disponíveis para elas... volto a zangar-me porque é hora de ler uma história, tranquilamente, no colo de um de nós, deitar e adormecer e sonhar! E isso raramente acontece, porque querem brincar, porque as histórias já não as prendem como quando nos cabiam na mão, porque só querem prolongar aquele momento a 4... como crianças que são! E quando tudo acalma e nos enroscamos nelas até sentir que os sonhos já as embalam, saímos do quarto, pé ante pé e somos só os dois. E o cansaço de todo o dia e do final do dia e do romper da noite leva-nos novamente para longe... e a lareira crepita, a televisão acende-se e o silêncio entre nós volta a irromper... e há sempre tanto para dizer ou haveria, se não houvesse tudo o resto! E tudo o resto é o melhor que temos, o que fizemos e estamos a criar juntos! Nunca estamos totalmente felizes com a vida que temos, pois não? Nunca nos sentimos completos e realizados... e esse sentimento perdura até ao momento em que os nossos olhos se fecham para sempre e a culpa de não termos preservado e esticado todos os minutinhos felizes, nos consome e nos faz partir com arrependimento!
Lamento sentir que o meu pai partiu assim, há quase 22 anos, sem ter tido tempo de ver tudo o que aconteceu desde aquele dia em que não nos viu mais. E perde-se tanto porque outros valores se interpõem nas nossas vidas, no nosso caminho! E digo constantemente que a vida tem de levar outro rumo, que tenho de me amar mais, me cuidar mais, sem ter de estar constantemente a cuidar das minhas filhas... e falta a coragem, vem o medo de perder algum momento importante e a culpa. Sempre a culpa por sequer ousar em pensar nisso! E elas estariam tão mais felizes (e são!) se eu estivesse bem comigo, se eu fizesse alguma coisa que gosto mesmo! E comecei a escrever este longo texto há 10 minutos e sei e sinto que poderia fazer isto durante dias a fio, sem nunca me cansar! Aqui, neste papel digital, sou eu. Sou a Ana verdadeira e sincera, sem máscaras nem esconderijos. Sou a Ana com os olhos a querer fechar para chorar em silêncio. Sou a Ana frágil e sensível que se liberta por soltar o que reprime para o teclado... sou a Ana que vai fazer 43 anos amanhã. Como se fosse fazer 60. Mas limpei a alma. E já não limpava este pedacinho de mim há tanto tempo! Escrever solta, purifica e rejuvenesce.
Amanhã faço 43 anos... mas serei sempre a Anita do meu avô Zé!
E as minhas filhas, que me caibam no colo até que os meus olhos adormeçam da vida para sempre. E que esse para sempre ainda venha longe, muito longe, para as ver crescer!
E o pai delas, que me abrace o peito como no primeiro dia que me abraçou. O meu mundo parou ali. O nosso mundo caminhou, lado a lado, desde esse dia.
Voltarei aos 43!
Sinto que amanhã faço 60 anos. dói-me o corpo. dói-me a alma. dói-me a pessoa em que me transformei nos últimos anos. Passo os meus dias a tentar ensinar (e a ser ensinada) os filhos de outros pais. passo os meus dias, muitas vezes, a ter de contar até 50 para os meus decibéis não rebentarem janelas e a minha força não cair sobre miúdos que poderiam ser os meus... e gosto muito do que faço! Sinto que contribuo, de alguma forma, para o crescimento destes pequenos seres em formação. e corro entre horas de almoço e finais de dia, para receber um abraço dos pequenos seres que cresceram dentro de mim. e corro em casa para que as noites não se alonguem, para que elas possam ter horas merecidas de descanso... e eu também. e estou tão cheia de tudo o que acumulei durante o dia que rebento ao mínimo estalido que ouça, à mínima contrariedade delas. elas que só querem o abraço e o mimo e a atenção que tiveram de partilhar com outros 20 miúdos pequeninos como elas. e eu poderia ser esse pote de mel no final de cada dia. e no final de cada dia poderia sentar-me com elas no tapete e ser a rainha daquelas princesas, ser a cliente do restaurante que elas gerem e onde confecionam com tanto amor toda a comida de plástico e madeira, com que enfeitam os pratos de todas as cores que habitam aquela cozinha maravilhosa de brincar, ser a senhora que vai fazer rabos de cavalo e prender no cabelo as mais de 500 variedades de ganchos... e ser ali, no nosso recanto, só delas, como elas querem tanto ser só minhas. e olho para o relógio e o tempo não para! e olho para dentro de mim e sinto-me a pior mãe do mundo por colocar o jantar e a roupa e a limpeza à frente de todo aquele amor... e é tão fácil ligar a televisão e servir-lhes uma taça de bolachas para que elas me deixem ter tempo para tudo. e elas ripostam e não querem. querem brincar e se não pode ser comigo, terá de ser uma com a outra... até ouvir gritos e chapadas e queixinhas porque não se entendem nem querem partilhar! E eu, em vez de perceber que elas só estão a pedir atenção, solto o que prendi durante todo o dia e rebento, para todo o lado, em todos os tons! E zango-me! zango-me tanto que sinto que já é o meu estado de espírito mais frequente em todos os dias que passam! E quando as acalmo e as sento à mesa para jantar, chega o pai, que só quer um abraço e um colo e três beijos... e zango-me outra vez porque destabiliza a paz que me deu tanto trabalho alcançar. e zangamo-nos os dois, um com o outro, os dois com elas... e a casa bonita onde só deveriam ecoar gargalhadas estridentes e cantigas que elas decoram na escola e gostam de partilhar, ecoam gritos e discussões e um número infindável de ameaças de castigos que nunca cumprimos! E a hora de deitar é mais uma chamada de atenção para toda a atenção que não tiveram durante o dia... e naquele momento em que nos têm aos dois, disponíveis para elas... volto a zangar-me porque é hora de ler uma história, tranquilamente, no colo de um de nós, deitar e adormecer e sonhar! E isso raramente acontece, porque querem brincar, porque as histórias já não as prendem como quando nos cabiam na mão, porque só querem prolongar aquele momento a 4... como crianças que são! E quando tudo acalma e nos enroscamos nelas até sentir que os sonhos já as embalam, saímos do quarto, pé ante pé e somos só os dois. E o cansaço de todo o dia e do final do dia e do romper da noite leva-nos novamente para longe... e a lareira crepita, a televisão acende-se e o silêncio entre nós volta a irromper... e há sempre tanto para dizer ou haveria, se não houvesse tudo o resto! E tudo o resto é o melhor que temos, o que fizemos e estamos a criar juntos! Nunca estamos totalmente felizes com a vida que temos, pois não? Nunca nos sentimos completos e realizados... e esse sentimento perdura até ao momento em que os nossos olhos se fecham para sempre e a culpa de não termos preservado e esticado todos os minutinhos felizes, nos consome e nos faz partir com arrependimento!
Lamento sentir que o meu pai partiu assim, há quase 22 anos, sem ter tido tempo de ver tudo o que aconteceu desde aquele dia em que não nos viu mais. E perde-se tanto porque outros valores se interpõem nas nossas vidas, no nosso caminho! E digo constantemente que a vida tem de levar outro rumo, que tenho de me amar mais, me cuidar mais, sem ter de estar constantemente a cuidar das minhas filhas... e falta a coragem, vem o medo de perder algum momento importante e a culpa. Sempre a culpa por sequer ousar em pensar nisso! E elas estariam tão mais felizes (e são!) se eu estivesse bem comigo, se eu fizesse alguma coisa que gosto mesmo! E comecei a escrever este longo texto há 10 minutos e sei e sinto que poderia fazer isto durante dias a fio, sem nunca me cansar! Aqui, neste papel digital, sou eu. Sou a Ana verdadeira e sincera, sem máscaras nem esconderijos. Sou a Ana com os olhos a querer fechar para chorar em silêncio. Sou a Ana frágil e sensível que se liberta por soltar o que reprime para o teclado... sou a Ana que vai fazer 43 anos amanhã. Como se fosse fazer 60. Mas limpei a alma. E já não limpava este pedacinho de mim há tanto tempo! Escrever solta, purifica e rejuvenesce.
Amanhã faço 43 anos... mas serei sempre a Anita do meu avô Zé!
E as minhas filhas, que me caibam no colo até que os meus olhos adormeçam da vida para sempre. E que esse para sempre ainda venha longe, muito longe, para as ver crescer!
E o pai delas, que me abrace o peito como no primeiro dia que me abraçou. O meu mundo parou ali. O nosso mundo caminhou, lado a lado, desde esse dia.
Voltarei aos 43!
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