Faz hoje 2 meses que existiu para esta família (e para tantas outras!) o último dia normal deste ano (e muitos dias assim lhe seguirão).
Há 2 meses deixei-as na escola, fui trabalhar e no final do dia fui buscá-las... à saída a auxiliar despediu-se com uma lágrima à espreita e soltou um "espero que seja até breve. protejam-se!". Fomos ao 64º aniversário do avô, onde os mais próximos marcaram presença e voltámos à casa que se transformou prisão. Há brincadeiras, birras, despertares maravilhosos, confeção de bolos e bolachas em conjunto (sim, também já fizemos pão!), dias que parecem não ter fim. Há mil e quinhentas e mais umas poucas refeições para fazer, pó e cotão que se acumula e que ganha vida todos os dias. Há migalhas no sofá, nos tapetes, nas camas... há vestígios de habitação permanente em todos os cantos da casa! Há um lugar maravilhoso ao atravessar a estrada ao qual só agora dou valor. Aprenderam a andar de bicicleta, correm, fazem chocolate e bolos e bolachas com a areia, apanham flores... e voltamos a casa. Há euforia de cada vez que sabem que vamos sair de carro, como se fosse a primeira vez. Com um brilho no olhar que nos remete para as primeiras descobertas. São tão incríveis, as crianças! E eu gostava de ser assim. Gostava de saborear todos estes momentos e sentir o gosto que lhes corre no corpo e na alma. Saboreio-as agora mais do que nunca. Mais do que nos primeiros 5 meses de vida, em que a casa era só nossa, das 3 mosqueteiras durante o dia até chegar o nosso D'Artagnan para a felicidade ser completa. Nessa altura elas ainda não entendiam o que as rodeava, passavam os dias a comer e a dormir (e a sujar fraldas!). Agora são independentes, donas do seu nariz, senhoras de si... e tão pequeninas quando se nos embrulham no colo e voltam à tenra idade com que vieram ao mundo! E sei e sinto que estão felizes, estão sempre juntinho a nós, não têm de partilhar a irmã com os outros meninos... mas sinto que lhes está a ser roubado tanto! Estão crescidas, juntinho a nós crescem sempre mais (é o que sentimos no final das férias de verão - dão muitos saltos, os da altura e os do desenvolvimento motor e cognitivo!) mas faltam-lhes outros colos, outros abraços, outras brincadeiras em conjunto, outras lambuzidelas na cara e no coração! Falta-lhes a alegria no início de cada jornada à chegada à escola "olha, já chegaram as manas!". Não quero viver de queixumes, estamos felizes, seguros e saudáveis. E há quem não esteja. E há, principalmente, quem já não esteja cá para sentir o que quer que seja. Tenho as minhas filhas no colo! Tenho uma mão que não descola da minha e juntos somos uma equipa maravilhosa! Mas sinto falta de mim, do meu espacinho, do meu trabalho, dos "meus" meninos, dos almoços diários com a minha mãe, dos cafés à pressa de manhã com os colegas, dos encontros de fim de semana com os amigos e com a família. Perdoem-me os sensíveis às querelas dos outros. Sou livre de dizer e escrever o que penso e sinto e o que sinto é cansaço. Só.
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