terça-feira, 11 de abril de 2023

Somos instantes...

..."saudades daquele tempo em que parecia que não tínhamos tempo para nada..."

E tínhamos todo o tempo do mundo, não era? Santa inocência da pré-maternidade... antes de pensarmos sequer em ser mães! Há 9 dias cheguei aos 44 e os dias que antecederam a efeméride foram tensos e tristes... sinto sempre que me estão a roubar vida, estes dias que teimam em correr demasiado rápido como se houvesse pressa para chegar à meta final! Estou perto dos 45, que são um saltinho até aos 50! E isso assusta-me, assusta-me como os 18 e os 30 me assustaram e me deprimiram e me fizeram sentir esmagada por este tempo que não se demora! E agora, mais do que nunca, preciso de tempo, tempo para mim, tempo para nós.... muito tempo para elas! tempo e paciência, calma e braços esticados para as abraçar... e o tempo não estica! E elas já não são pequeninas (apesar de serem), já não me solicitam para tudo (apesar de me chamarem sempre!)... já não precisam tanto de mim (apesar das 500 vezes em que a palavra "mãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaae" ecoa nas nossas quatro paredes). E amiúde já consigo respirar... e às vezes sinto que não respiro o suficiente.... e às vezes sinto que já não consigo respirar sem tê-las a sugar-me o ar! São estas dualidades que me fazem travar a fundo no precipício que se abre aos meus pés, no decorrer dos dias, quando lhes peço espaço, no cair da noite quando só quero que se enrosquem comigo no sofá para lhes contar histórias que muitas vezes não querem ouvir (mas que já me ajudam a ler!). Tenho saudades de não tê-las... e um pavor crescente do exato momento em que não quererão mais ter-me junto a elas. Em que se esconderão atrás das portas dos seus quartos, num mundo que exigiram só para elas, e me excluam... como eu fiz aos meus pais! Acabamos sempre por afastar aqueles que mais amamos, aqueles de quem mais dependemos, aqueles que nos dão tudo... e a quem é mais fácil fechar do lado de fora da nossa vida! Sofro, sofro sempre muito (demasiado!) por antecipação, talvez por isto mesmo - por saber o que fui e quem magoei, por ter crescido longe e afastada e independente... mas também me conforta saber que, ainda hoje, quando os medos me assombram e os nervos me assolam, o colo da minha mãe está ali, da minha mãe de mãos enrugadas (que me afaga o cabelo como ninguém), da minha mãe a quem a vida roubou tanto e a quem está a fazer envelhecer numa escuridão cada vez mais presente! Sinto tanta, tanta, mas tanta raiva da vida da minha mãe!!! Trabalhou até poder (muito mais tempo do que deveria ter trabalhado!) para que nada nos faltasse! É pai e mãe há mais de 20 anos! E está sozinha, apesar de todos os que tem por perto, entrelaçados nos dedos dela, não tem as mãos daquele a quem jurou amar eternamente! E não é justo! E tem filhas e netos e genros e muitos amigos que gostam incondicionalmente dela e estão sempre a um passinho quando é preciso. Mas nas noites, nas noites em que a luz do sol se esvanece e a escuridão lhe irrompe pela casa... o silêncio que a abraça sem lhe tocar, a voz que lhe sussurra sem se deixar ouvir...  sei que adormece sempre triste, a minha mãe. Triste pela casa vazia, triste pelos olhos que lhe estão a morrer... e o que peço a esta vida, é que lhe conserve a pouca luz que ainda vê para que possa ver os netos crescer e a ter aquela energia para ainda inventar jogos e brincadeiras que os fazem felizes! 
E não era este o rumo que queria dar à minha "aparição" nestas páginas brancas... mas são todos estes pedaços de mim que me fazem olhar para o lado de lá da ponte com medo, com receio de atravessar. Temo que do outro lado os degraus me fujam e me façam cair... e me tirem o chão! Somos instantes...

(foto bonita de dias bonitos com a mão que não se desprende da minha*)








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