Ai outono! De quentes e ternas cores. De tons dourados e flamejantes. Ai outono que tanta mudança almejas. Que fazes as folhas cair e os chão cinzentos e frios cobertos de um manto repleto de cor! Ai outono que me aquece os olhos. Os olhos que tantas vezes se enchem de lágrimas por tanto e por tão pouco... cada vez mais! Tudo me emociona... tudo me enraivece. Já não há meio termo ou copo meio cheio. Há transbordo e explosão... há muito pouca contenção. E os olhos brilham com a tristeza e a alegria alheias. A minha vida... a minha vida é toda uma miscelânea de sentimentos que colidem entre si! Os meus dias são corridas de fórmula 1... e o meu carro já não tem a cilindrada de outros tempos para ganhar o percurso. Ganhar... ganhar o quê se a vida vida já me deu tanto... já tanto me tirou?! Tirou-me o chão e deu-me asas! Tirou-me a alma e encheu-me o coração e o colo! Tirou-me o sorriso e iluminou-me o rosto! Tirou-me a essência e presenteou-me com brilhos no olhar constantes! Sou uma afortunada... e uma insatisfeita. Sempre fui! E aquele blá blá blá do "temos que dar valor aos presentes da nossa vida e deixar de lado as insignificâncias que nos consomem" faz mesmo sentido! Mas para mim não faz sentido nenhum! Porque raio não podemos ter tudo o que nos faz felizes?! Porque temos de continuar a ver as pessoas partir deixando um enorme buraco de nada, repleto de memórias e lembranças e uma saudade que nos consome?! Será assim tão difícil agradecer os blá blá blá's da vida e ser, simplesmente, feliz com o que tenho?! Nada tem de ser tão perfeito como o que almejo. Nada tem de ser tão bonito e tão brilhante como gostaria. As minhas filhas não são bibelôs nem figuras de montra de Natal. Não são sossegadas e comportadas. Gritam, esperneiam e fazem birras que me dão vontade de arrancar o meu cabelo (e o delas!) um a um. Têm o mau feitio da mãe... e a doçura do pai! E dão os melhores abraços do mundo! E os beijos?! Os beijos que nos lambuzam a cara (e nos dão vontade de guardar aquela sensação numa bolha eterna!)! E as gargalhadas que ecoam pela casa e lhe dão vida?! Vida e desarrumação e pó e bonecos despidos e peças de puzzles espalhadas e tapetes e paredes pintadas com as cores que deviam desenhar em papel! É tudo tão bonito e eu sou tão estúpida que não vejo isso!!! De que me lembrarei, velhinha, sentada no meu cadeirão desbotado, a ver o Preço Certo e a comer filhós com doce de mogango e chá quentinho? Das birras e dos nossos gritos?! NÂO! Sentirei saudades das dores nas costas pelo colo que sempre dei... e sentirei a pele do rosto enrugado e seco... pelos beijos melados que já não recebe! Sentirei saudades dos bichinhos de conta enroscados em mim, dos "amo-te muito, mãejinha!"... e da casa repleta de sons que fazem desesperar qualquer vizinho! Ganhar.... juízo, Ana!! Ganha juízo e vive mais e resmunga menos! Abraça mais, respira! E ama!!!! Ama todos os dias!!!
E, nesses dias de velhice e mantinha e braseira aos pés, que tenhas a mão que durante a vida se colou à tua e não partiu. E está ali, ao teu lado, com as mesmas rugas no rosto e o mesmo sorriso rasgado a lembrar o arco-íris que foi (e continua a ser!) a vossa vida!!!