Ninguém nos prepara para isto da maternidade! Nada! Nem a vida, sequer!
Quando o ventre se enche de vida e a pele fica mais bonita, quando já não vemos a ponta do atacador para apertar os sapatos e tudo o que queremos é dormir e comer como se não houvesse amanhã... por alguma razão que desconheço, esquecem-se de nos dizer que a vida de mãe (de pais!) não é o mar de nuvens fofinho onde eles crescem intocáveis e protegidos e nada de mal lhes acontece porque a nossa mão lhes vai sempre amparar as quedas e os medos maus! Só que não!
Depois de nascerem, quando troquei o quarto de hospital pela casa que decorámos e levei uma, percorri demasiadas vezes os corredores deste hospital para tocar a uma campainha e dizer todos os dias "é a mãe da Clara"... Hoje já não há botão de campainha para me deixar entrar... mas a Clara voltou para uns metros mais à frente daquele casulo protector de bebés minúsculos... Voltou para um quarto de meninos maiores! É a terceira noite que vamos dormir longe do pai e da mana. E se há quase 18 meses o meu coração se apagava em cada vai e vem de estrada porque deixava ora uma, ora outra... agora evade-se do meu corpo e por momentos adormeço a mãe em mim atrás do volante e viajo em piloto automático por uns minutos! Hoje já não tenho a fragilidade de um parto precoce e uma separação forçada! Hoje tenho quase 18 meses de maternidade! Tenho esses dias todos de vida delas junto a mim - das duas juntinho uma da outra! Da cumplicidade que se vê crescer entre elas, dos abraços sentidos que já nos dão, das lágrimas de nos verem sair porta fora porque as estamos a "abandonar"... e é sempre o que sinto em cada vai e vem de estrada sem noção da quantidade de vezes que tenho de repetir! E estou exausta! O corpo aguenta... a alma dói! Não é o coração! A alma entrega-se à dor sem pudor algum e leva-nos às lágrimas como uma entrada em cena de uma peça de teatro mal argumentado sem tempo para o correr das cortinas! A alma deixa-nos nuas... É o que sinto quando passo (sem passear!) pelos corredores da pediatria e vejo as outras mães, com os seus filhos, sem olharem nos olhos das outras mães que têm os filhos nos quartos ao lado, nos quartos em frente! Aqui estamos entregues a eles e eles a nós. Cada quarto é o nosso mundo, o mundo provisório que temos de manter limpinho e seguro para nos deixarem sair rápido que aqui não é vida para ninguém, não senhor!
E o lugar de cada filho deveria ser em casa, na casa dos pais, no colo das mães, na segurança que a família representa!
Aguenta, filha! Em breve deito-te nos lençóis de nuvens cor de rosa e a mana acorda-te da preguiça com o habitual e sonoro "Cáaaaaaaa"... e somos os 4 mosqueteiros juntinhos outra vez!
Ah! Já te disse que só te desculpo estares doente porque só assim te aninhas no meu peito como agora, neste momento? E estes minutos são só nossos, aqui, no pequeno mundo de onde sairemos em breve...