quinta-feira, 27 de julho de 2017

Depois dos 38 feitos disse que voltava...

...e voltei! Só porque o prometido devido é... só porque a vida sofreu algumas alterações nos últimos dias (que me parecem já semanas!), só porque tenho algum tempo livre para o fazer (porque não estou em casa... ou haveria pó que só eu consigo ver e outras demais lides domésticas para executar!)
Comecei a trabalhar... no sítio de onde nunca quis sair, para onde quis sempre regressar! E agora estou aqui, entre a felicidade de finalmente ter uma rotina e vida próprias, de não ser sempre a mãe e dona de casa que não sossega nem deixa sossegar... e a culpa por não ter as miúdas mais cedo no meu colo, de ter tempo para brincar com elas no final do dia (e ainda só passaram três dias...) e a casa a encher-se de pó... que só eu consigo ver!
E por ser tão recente ainda esta mudança na minha vida é que ainda não sei lidar muito bem com tudo isto... há mais de um ano em casa, a preparar-me para a chegada delas, a tê-las pertinho de mim, a levá-las ao infantário pequeninas e a tê-las comigo poucas horas depois... a ser mãe! Ainda sinto que é a única coisa que sei fazer - ser mãe e cuidar da casa para que elas estejam seguras e limpinhas e protegidas e longe de bichos maus! (inocente, esta Ana que viveu tanto tempo longe do mundo real!)
Daqui a um mês pensarei de forma completamente diferente e será esta a nossa rotina, como é a de tantos outros pais perto e longe de nós! 
E prometi que voltaria depois dos 38 feitos... antes de elas fazerem um... UM ANO!!!!!
Um ano que passou a uma velocidade estonteante com mais informação, emoções, descobertas, adaptações, aflições, desespero e alegrias do que poderia algum dia imaginar! É tão enriquecedor como desgastante, esta maravilha de ser mãe de duas! É descobrir que é possível amar duas pessoas exactamente da mesma forma (e elas são TÃO diferentes!), é sentir um amor capaz de nos fazer explodir o peito... é preocupar-mo-nos com a que adoece e sentir que estamos a descurar os cuidados com a que dorme ali ao lado! É tomar a mais rabugenta nos braços porque naquele momento só o colo da mãe a acalma e sentir outros olhinhos postos em nós com ar de desilusão porque o seu corpo também precisa do meu calor e os meus braços já não aguentam muito tempo com as duas em simultâneo (nem elas gostam de me partilhar!)! É ir buscá-las e querer chegar a casa para perdermos horas a brincar (e elas gostam tanto que brinquemos juntas!) e pensar no que há para fazer... e que tem de ser feito! É sentir que não dou atenção suficiente a cada uma, que não as mimo na quantidade suficiente, que não me dedico como elas precisam... como seres individuais que são! E são tão diferentes, as minhas filhas... e olho-as com admiração por isso! Por tê-las tido dentro de mim durante quase 8 meses, juntinhas, respirando o mesmo ar apertado... e serem assim! Cada uma com a sua personalidade já vincada, cada uma com as suas manhas e birras, cada uma com a sua forma peculiar de nos fazer um carinho e nos provocar sorrisos largos sem nos darmos conta (e, também, nos fazerem perder as estribeiras e a paciência... cada uma ao seu jeitinho único!)
A três dias de as ter a completar o primeiro ano olho para trás e já não me recordo de as ter minúsculas nos meus braços (a Clara cabia-nos na mão!)... há momentos que se desvanecem para dar lugar a outros mais recentes... precisava de muito mais espaço na memória para me recordar de tudo... e um bypass no coração para armazenar tantas emoções! É uma aventura diária, é a certeza de que somos capazes de gerar vida e dar-lhe continuidade, de que somos aptos a amar para além de nós mesmos e passarmos para segundo e terceiro planos porque elas são o centro da nossa vida! É continuarmos a olhar um para o outro (depois de inúmeras discussões que temos quando o cansaço se apodera e as opiniões divergem - a mãe é que sabe SEMPRE tudo!) e sentir o amor que permanece e se multiplicou neste último ano! É sentir-nos felizes namorados como antes (com muito menos intensidade... senão o tal bypass teria de me habitar na caixa torácica!).
É tentar esquecer que as tiraram demasiado cedo de dentro de mim e lembrar-me que estão seguras nos meus braços agora. É tentar apagar o desespero sentido naqueles 10 dias numa casa que foi nossa durante esse tempo, das lágrimas, da fragilidade, do silêncio, de não poder pegar-lhe ao colo mais que uma vez (em 10 dias!!!) e sentir-me deambular por aqueles corredores, da felicidade de ter a irmã juntinho a mim... e não poder ter as duas a aquecer-me o colo todas as noites...
Mas são essas as memórias que também guardo, porque fazem parte da história delas!
Agora tudo isso me parece longínquo... só que há aquelas alturas! Agora tudo está bem e ainda ontem lhes cantei ao ouvido, ao mesmo tempo, e me passeei com as duas ao colo pela casa, porque ambas precisavam dele... e ele, o meu colo, estará sempre pronto para lhes acalmar as dores ou lhes curar as birras! Que não me fraquejem as pernas nem os braços me doam... e que o meu coração se mantenha enorme para lhes acolher todos os bens e os menos bons!
(tenho de reaprender a escrever... como antes, quando chegar ao final da página em espiral era supersónico... e tão natural!)

Voltarei... depois da primeira vela apagada!
até já... até sempre!