quarta-feira, 12 de novembro de 2014

“Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.”
Al Berto, in ''O último coração de sonho''.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

as mexeriquices da alma!

Nem os dias, muito menos as horas e os minutos estão contabilizados na minha memória desde a última vez em que abri esta página em branco... com vontade de enchê-la de letras pequeninas para se transformarem em palavras sentidas, com significado! Hoje, como os dias são agora mais calmos e as horas mais longas (como se o tempo tivesse forma de se prolongar!), hoje resolvi perder tempo com o que antes (há tanto tempo!) era tão habitual! E escreverei até que faça sentido para mim escrever... e escreverei até que as mãos me doam e o peito fique vazio com todo o entulho que o anda a fazer respirar devagarinho...
Nada de concreto sairá daqui.... sei que daqui a uns tempos, quando a vontade absurda de voltar a escrever me assaltar, sei que vou saber exactamente o que senti ao deambular por estas linhas invisíveis.
Mudei! Mudei de trabalho, logo mudei de vida! Mudei de hábitos (ou obrigações?!) madrugadores e de rabugices vespertinas! Mudei de humor, mudei de bem-estar com a vida! Sou mais feliz, mais cansada, mais responsável, mais sábia.... se me dão mais valor? Não dão! A amizade que tinha (e TENHO) com as pessoas com quem convivia todos os dias não voltei a ter... conhecem-me tão bem! Aqui, só me conhece quem eu deixo realmente que me conheça... ninguém, portanto! Surpreendo-me cada vez mais com máscaras e sentimentos não sentidos, com palavras que transpiram falsidade, com olhares que transmitem tudo o que os lábios não têm coragem de proferir! Raça humana tão animalesca aquela que me circunda! 
Se me dão o valor que mereço?! Não dão... podem agradecer e aplaudir no momento mais conveniente e depois esquecem... para se relembrarem quando outro momento oportuno chegar! Se me dão valor?! Não dão... mas aqui sinto que estou de facto a fazer algo por mim, pela minha evolução enquanto pessoa, enquanto profissional (afinal, foi para isso que perdi (ou ganhei) tantos anos com a cara enfiada nos livros (ou fora deles!)) Se me dão valor?! Não dão... mas para isso, dou eu a mim mesma todo o valor e dedicação que sinto que tenho, que sei que dou! Não dão... mas vale a pena! Vale a pena sentir que afinal sou muito mais do que me habituei a ser... do que me conformei que seria sempre! E tive medo... e vontade de voltar atrás, recuar... mas se o fizesse nunca mais sairia de uma vida que não queria que fosse a minha! 
Feliz? Sou.... no momento em que os meus pés pisam o tapete redondo que me recebe à entrada de casa... e os braços que me adormecem se estendem para me abraçar! Sou... quando o sol nos acompanha pelos caminhos que trilhamos! Sou... quando os olhos se irradiam de luz no rosto de amigos que vou perdendo de vista e reencontro! Sou... quando as vozes distantes se lembram de ouvir a minha e marcam o meu nº (preguiça a minha que não me deixa ser mais vezes assim!)! Sou... quando todos os dias o colo da minha mãe ainda está lá para eu me aninhar! Sou... quando saio de casa a caminho do trabalho, quando ainda ensonada buzino aos que 'parecem lesmas de estrada', quando ao longe avisto o edifício onde passarei o resto do dia... e feliz continuo o resto do dia porque a vida, apesar de não me dar muitos presentes (se não pensar no amor, na amizade, na família, no sol, nos trilhos que percorro, nas gargalhadas que solto quando os meus olhos brilham, nos sorrisos que se abrem ao olhar para mim), não me tem roubado mais do que roubou já...
Sou feliz... já não é mau! É (SÓ) muito bom!!!! :)

Um dia volto.... quando os bichos mexericos me provocarem comichão na ponta dos dedos e o coração estiver demasiado perto da boca! :)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


Quero uma casa no campo como elis regina,
Plantar os discos e os livros ,
E quem sabe uma menina,
Por mim até podem ser mais,
Um amor como os meus pais,
Os dias como os demais,
Sem serem todos iguais.
Casa no campo com a porta sempre aberta para deixar entrar amigos,
Partir à descoberta,
Ter a minha cama grande a colcha predileta e um cão desobediente dorme em cima da coberta.
Quero uma casa completa
com um pedaço de terra,
E com o espaço quero o tempo para adormecer na relva,
Longe da selva de cimento,
Eu acrescento que quero cultivar mais do que mero conhecimento,
Quero uma horta do outro lado da porta e quero a sorte de estar pronta quando a morte me colher,
Quero uma porta do outro lado da morte,
Ter porte de mulher forte quando a vida me escolher.
Quero uma casa no campo que cheire a flores e frutos,
A gomas e sugus,
A doces e sumos,
Cozinhar para quem quer comer,
Comer como sei viver,
Com apetite já disse que não quero emagrecer.
Comer de colher sopa,
Fazer pão,
Estender a roupa,
Eu faço pouco das bocas que me dizem para crescer,
Eu quero rasgar janelas nas paredes cujas pedras
carregar com as mãos que uso para escrever.
Casa no campo com lareira e fogo brando,
Que ilumina todo o ano,
O sorriso de quem amo,
Quero uma casa no campo que pode ser na cidade,
Mas tem de ser de verdade,
Mesmo não tendo morada…
Onde é que aprendeste o que é o infinito ?
Foi na contra-capa de um livro da Anita
Diz-me qual é o teu perfume favorito ?
Pão quente, terra molhada e manjerico
Anda viver comigo
colamos o nosso umbigo
e não passaremos frio
no nosso lugar distante
Como um filho, como um disco, como um livro, uma ave.

Capicua