Que saudades eu tenho de pegar numa caneta e perder-me em palavras que me saem directamente da alma para páginas brancas soltas que encontro perdidas em qualquer lugar...
Que saudades tenho eu de me sentar frente ao ecrã vazio com o pisca pisca do cursor a pedir insistentemente que o faça rodar em espiral até ao fundo da página...
Que saudades eu tenho de ser eu... para mim... para mais ninguém... anónima de uma página criada quando ainda sabia escrever... e perder-me em devaneios oriundos de sonhos meus!
E tinha sonhos... tinha tantos! Era uma alma aventureira, quando a vida ainda não me tinha ensinado o que é perder alguém... o que é acordar um dia e querer apenas que o dia anterior regresse... e se eternize!
E pensava sair do lugar onde nasci e que me viu crescer! E aspirava percorrer todos os caminhos que a vida me permitisse percorrer, sem esquecer quem ficava, mas sem me arrepender de não olhar para trás!
Eu era assim, em menina inocente que vê o mundo com olhos de fome por mais, sempre mais! Que olha para além fronteiras e acredita que o futuro é naquela direcção, que todos os sonhos serão vividos tal qual acontecem quando os olhos se fecham para uma noite de descanso... Eu era assim! Sempre me lembro de ser assim... e depois cresci! E o medo veio com os anos! O medo de arriscar, de aventuras, de viver longe, de subsistir... de viver por mim!
E fiquei por aqui, no lugar onde nasci e que me viu crescer... no lugar que me deu asas e acabou por tirá-las! Ninguém me prendeu aqui, ninguém é responsável pelo meu receio de concretizar o que sempre quis! EU ESCOLHI! Eu quis ficar aqui porque acreditava que aqui também poderia ir longe, sem tem de partir!
E amo tanto viver aqui, neste lugar onde nasci, que me viu crescer... e de todo um país à beira-mar esquecido que tem tanto para percorrer, para descobrir... e que está a morrer aos poucos!
Hoje tenho medo, não por mim porque vivi o que tinha a viver na altura em que devia ter vivido... tive oportunidades de escolha, de aventura, de aprendizagem e de concretização de sonhos! Se hoje estou onde estou, é por mim! Podia ter partido, mas fiquei... demasiado acomodada com a vida que poderia preencher-me mais a nível profissional, mas foi escolha minha e é com ela que tenho de viver! E os filhos que quero ter? E olhos esperançosos dos filhos das minhas pessoas que já se permitem sonhar? Que futuro terão eles num país assombrado por dias intermináveis de más notícias, desilusões e excesso de falta de luta? Onde está o direito de querer ficar onde se cresceu sem ter medo de não ter nada a que se agarrar? Por que mundo estamos a lutar dia após dia? É para morrermos sem termos tempo de um banco de jardim a olhar para o passado com as mãos que nos aqueceram a vida inteira entrelaçadas nas nossas? É para isso que vivemos? Para um dia, no final de 8 horas de trabalho, com o corpo e a mente que já mereciam descanso, cairmos sem mais forças para nos levantar? É para nos despedirmos da vida sem tempo de vivê-la?
Hoje tenho de vontade de partir, sim.... entrelaçar fortemente a minha mão na mão que se une à minha no final de cada dia e partir e não olhar para trás! Afinal, para além de quem nos viu nascer e nos ajudou a crescer... o que há aqui que mereça o nosso último olhar... sem doer?
'E eu vou, e a luz do gladio erguido dá,
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.'
Pessoa in Mensagem