terça-feira, 23 de abril de 2013

Quem éramos?

Quem éramos?
Seriamos dois ou duas
formas de um? Não o
sabíamos nem o
perguntávamos.
Um sol vago devia
existir, pois na floresta
não era noite. Um fim
vago devia existir,
pois caminhávamos.
Um mundo qualquer
devia existir, pois
existia uma floresta.
Nós, porém, éramos

alheios ao que fosse
ou pudesse ser,
caminheiros uníssonos
e intermináveis sobre
folhas mortas, ouvidores
anónimos e impossíveis
de folhas caíndo.
Nada mais.

Bernardo Soares - Livro do desassossego