Estou há uns minutos a tentar recordar-me da última vez em me olhei ao espelho e vi a menina que sempre vislumbrei escondida no brilho dos meus olhos... e a memória não me presenteia com nenhuma imagem, com qualquer data precisa, com qualquer momento em que senti ser o que já fui... hoje vejo rugas próprias da idade, que o tempo e a vida me deixaram marcadas no rosto, marcas de sorrisos que guardo sempre comigo e se rasgam sempre que a lembrança desses momentos felizes me assalta... Tenho saudades de ser assim! De sentir demasiado, de me deixar envolver por tudo o que me pudesse provocar qualquer tipo de emoção, de ter a capacidade própria de uma criança para sonhar e esperar sempre que o dia de amanhã pudesse brilhar mais intensamente! A idade ensina-nos a saber viver... pé ante pé... um passo à frente... dois passos atrás... um passo com firmeza e segurança... um passinho a medo e com muita precaução!
Tu fizeste-me assim... mais crescida, mais responsável... menos menina, menos sonhadora! Assentaste-me os pézinhos voadores na terra... a mim, que sempre gostou de voar... de sonhar... de divagar... de imaginar... de se perder... de aproveitar sofregamente cada minuto que a vida me permitia viver... intensamente, impensadamente, irresponsavelmente! E limitava-me a viver!
Hoje gosto de ser assim, de ter crescido! Os sorrisos, os pulos, as correrias, as brincadeiras, os planos, os sonhos, os abraços, as mãos entrelaçadas, os beijos, a paixão... a razão, o medo, o choro, a discussão, o amuo... o fazer as pazes! Viver é isto tudo! Viver é muito mais! E contigo voltei a aprender a viver, a ter objectivos, a lutar, a acreditar que mereço muito ser feliz! E sou... uns dias mais... poucos dias menos... mas sempre a aprender com os meus erros... na esperança que possas também aprender com os teus! E quero que continuemos a aprender juntos, a surpreender-mo-nos, e a moldar-mo-nos um ao outro! A minha imperfeição é como a tua... real! E eu aceito-te... como és... como gostaria de ser aceite... e sinto que não sou! E cada desilusão que te vejo estampada no rosto me tira um bocadinho daquilo que amo em mim... da menina que não quero abandonar, da espontaneidade que me caracteriza, da eterna inocência que é tão minha... foi assim que me conheceste e não quero deixar morrer quem sou! E não quero mudar! Não! As pessoas não mudam, moldam-se! A essência, a personalidade, as convicções, as crenças, as atitudes... são imutáveis! Sempre acreditei nisso, tu sabes! Deixa-me brincar quando entendo que ninguém vai levar a mal... quando é preciso, ninguém me tira a seriedade! E bato e baterei o pé quando for preciso! E soltarei gargalhadas sonoras quando a felicidade me inundar o peito e não conseguir contê-las dentro de mim! E amuarei quando os meus desejos não forem cumpridos... e rirei de tudo isso quando o amuo me passar! Eu SOU assim! Não quero ser de outra forma! Jamais me atreveria a impor-te a minha pessoa... se foi por mim que te apaixonaste... é por MIM que continuarás apaixonado... se assim o entenderes!
Quero ser feliz... mais do que já sou! E se quiser bradar aos quatro ventos o quão feliz me sinto, fá-lo-ei sem qualquer pudor ou medo de represálias!!!!!! (Anita impõe-se!)
Até já....
"Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro, forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim. Já vi de tudo, ainda do que nunca vi, nem o que nunca verei. Eu reinei no que nunca fui."