para o miguel,
“agora moro mais perto do sol, os amigos
não sabem o caminho: é bom
ser assim de ninguém
nos ramos altos”
eugénio de Andrade
agora ouço dizer… o mundo está mais pequeno… ficará para sempre nos nossos corações…. jamais o esqueceremos… "foi um combatente pela consciência cívica, pelo desejo de transformar a sociedade num lugar mais humano e mais justo"... era uma pessoa fantástica…. e era! era-o mesmo! Era de facto daquelas pessoas que não passam despercebidas, porque têm sorrisos contagiantes, porque emanam alegria e espalham boa vontade, positivismo e alegria! Era assim o miguel…
era sempre assim, mesmo depois de ter adoecido, mesmo depois de saber que poderia partir a qualquer momento, o miguel não desistiu, não deixou de nos presentear com aquele sorriso, com aquela força interior… como sempre foi… como sempre teria sido…. como sempre será….
Porque é dos “ramos altos” que ele nos observa e continua a rir…. apesar do que abandonou, das pessoas que choram ainda, das pessoas que jamais o esquecerão, continua a sorrir, com aquele ar de menino desalinhado e malandro….
poderia escrever aqui páginas infinitas acerca da pessoa que o miguel era… a pessoa que ele era, que sempre foi, aquela força da natureza que desistiu de lutar (que estava exausta de sofrer) continuará sempre vivo na memória de todos os que se cruzaram com ele, continuará presente em cada cantinho onde esteve…. nunca vou esquecer, o miguel…
no dia da sua despedida, um mar de rostos desfeitos invadiu a pequena aldeia que o viu crescer… nunca um silêncio tão ensurdecedor teve o poder de dizer tanto… nunca vi tanta mágoa unida… tanta saudade…
“no ultimo domingo (dia 14), centenas de pessoas (muitos jovens), acompanharam o miguel , num comovente ultimo aceno de afecto colectivo. Não era um ritual, era uma despedida já de saudade nos olhares. Os rostos iam fechados de tristeza. (…) um sol de fim de tarde, de luz intensa, como o miguel gostava, varria a paisagem outonal e poisava nos altos ramos dos pinheiros, como se quisesse participar no adeus. Os moinhos de vento, no dorso da montanha, começavam lentamente a mover-se.”
antónio paulouro in jornal do fundão
isto nunca será um adeus… é um até sempre…
miguel pereira (1978-2007)
ah, deixem-me sossegar.
não me sonhem nem me outrem.
se eu não me quero encontrar,
quererei que outros me encontrem?
fernando pessoa