quinta-feira, 31 de agosto de 2006

eu queria...

Eu queria que o dia fosse noite e que a noite deixasse de existir... Eu queria saber tudo... e jamais ter de saber nada... Eu queria viver sempre rodeada de pessoas...mas o meu cantinho é tão mais confortável, tão mais acolhedor… tão mais meu que qualquer outro espaço que me pudesse ser oferecido… Eu queria poder escolher as decisões que tomo dia após dia, sem ter de pensar se não em mim… sem ter de ponderar as consequências… Eu queria voar… voar para longe… para os confins da terra… do universo… de tudo aquilo que é conhecido, de tudo aquilo que é habitado, poluído, adulterado! Eu queria estar sozinha quando é exactamente isso que quero! Sem ter de justificar, sem ter de ser criticada… Eu não queria viver aqui! Eu não queria viver em parte alguma… O meu espacinho, aquele que tanto prezo, o único cantinho onde me sinto protegida, onde me sinto eu, onde ninguém me conhece e me atormenta… vive dentro de mim! Está escondido no meu ser, na criança que guardo aqui, no ser inocente que já fui… na alma pura que me usurparam e levaram para longe… “Eu era feliz e ninguém estava morto…” … “Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!... (Nem o acho...) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...”(F.P.) Ainda sou feliz… nos momentos em que me deixo embalar nas palavras de quem me ama, de quem me conhece, de quem me sente… sim, ainda sou feliz… mas quem queria que me embalasse, quem queria que me sentisse, já não sente, já não vive, já não sonha… quem sempre me embalou, quem melhor me conheceu… já não me olha com olhos de orgulho, com vontade de me abraçar, por pior que lhe tivesse corrido o dia… Mas ainda sou feliz… porque tenho a meu lado quem me conheça e me ame… tenho pessoas que dariam muito para que eu tivesse mais… Sim, sou feliz! Mas sou incompleta! Sou ainda aquela menina que jamais deixei morrer, que jamais consegui abandonar… Sou feliz, sou… e agradeço-te por me teres criado assim… e amo-te… sempre… estejas tu onde estiveres…